... me começa a escorregar por entre os dedos tal e qual a areia fina, eu tento lembrar-me de coisas que me fizeram feliz, que me preencheram a alma, que me fizeram sentir mais perto de de algo que se encontra muito acima de tudo o que pertence a este mundo terreno. Há coisas tão perfeitas que só podem fazer parte de um outro mundo... o mundo espiritual. Então, nessas alturas, gatafunho no caderno as palavras que definem essas coisas, momentos, sensações, pessoas... e repito os nomes delas várias vezes na tentativa de me sentir mais perto desse mundo: aquelas flores que comprei sozinha só por paixão; o som do vento a bater nas àrvores como se falasse, naquele jardim; a chuva que chorava quando batia na janela e eu chorava com ela como que num alívio da alma; o mar da Praia da Calheta naquela tarde de Inverno; o mar calmo e transparente na prainha numa manhã de Verão; as conversas das pessoas num final de tarde no café; aquela(s) mão(s) na minha mão; aquelas lágrimas que limpei; a fusão dos corpos; a pureza e a musicalidade da àgua naqueles dias de férias; as músicas que ouvi quando chorei e amei; o andar de baloiço; os girassóis que fotografei; os sorrisos que guardei de quem ainda cá está e de quem partiu; aquele beijo; aquela conversa de amigas; aquela dança ao som do bater do teu coração; todas as partidas emocionadas, todas as chegadas com abraços...
Durante 19 anos tive alguns momentos que não quero esquecer porque fui feliz ali, naquele lugar, com aquela(s) pessoa(s)... e nesses momentos, eu tive a certeza da grandeza de estar viva. Quero, preciso de me lembrar disso sempre que o ânimo de viver começar a escorregar-me por entre os dedos tal qual a areia fina!!!
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